quarta-feira, 16 de abril de 2008

Ressurreição

Acorda o faraó do seu sono profundo
de não sei quantos séculos de torpor
O que ele percebe, desolado?
Mudanças incompreensíveis no seu mundo,
não há vestígios do antigo esplendor.
Nem múmia, nem tesouro, tudo acabado,
saqueado, levado por ladrões.
Em lugar de súditos ou escravos,
boquiabertos turistas saxões.
Sumiram os cem filhos, as esposas,
o ouro, as jóias, os milhões
de prerrogativas do total poder.
Difícil de crer, de entender.
Nem Osíris o pode socorrer.
Percorre o faraó os subterrâneos
da sua nova vida, imaterial.
O que ele vê?
Uma insuspeitada liberdade de ação
Surpreso, verifica o faraó
que da parafernália dos bens materiais
ele, agora, não necessita mais.
Sente-se bem melhor.
De uma certa forma, está maior
do que quando reinava, no Antigo Egito,
que, aliás, não existe mais.
Alegra-se o faraó:
há muito o que fazer na nova morada.
Sem saudades do fausto anterior,
prepara-se para servir o verdadeiro Senhor
e voltar à vida, como obscuro professor,
na mesma aldeia onde antes reinava.

0 comentários: