sábado, 17 de maio de 2008

Aprendizado

Vou aproveitar o Carnaval
para transformar-me
em tudo o que, em mim, é mau.
Serei a assassina, a traficante, a terrorista.
Viverei uma irresponsável e irrefreável
liberdade.
Sem medos, sem culpas e sem freios,
aceitarei todas as possibilidades,
sem intermediários.
Eu, a moça reservada,
bem comportada, calada,
aproveitarei as férias
para praticar misérias.
Vou, ora se vou...
Consciente da minha mortalidade,
dela suficientemente convencida,
vou buscar esta saída,
com muita criatividade.
Vou abrir a Caixa de Pandora,
e jogar todos os horrores fora,
por meio da poesia,
que me trouxe a empatia,
que me trouxe a compreensão
dos erros cometidos no passado
que, passando, tanto dano já causou
e, causando, estranhamente me elevou
a um outro patamar,
para saltar,para mergulhar,
para sair em outro lugar,
onde nada é o que parece,
onde a aranha não tece,
simplesmente obedece
a outro comando.
E, passado, poesia e dano
formam a teia rendilhada
da manta quadriculada
com que cubro meus cabelos,
e dos ventos me protejo.
Por meio da poesia,
vejo agora o que eu não via
(quando tudo era perfeito,
e eu achava que sabia
de que átomos o amor é feito).
trouxe-me a poesia
a visão dos meus defeitos,
trouxe rosas amarelas,
manguezais, recordações,
do passado revisitado
no castelo assombrado.
E, se um dia, não houver mais poesia,
restará o Carnaval,
este imenso festival, onde tudo acaba igual...

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