domingo, 3 de agosto de 2008

Bandida assustada

Bandida, tres vezes bandida,
de sangue quente...
Te vejo, te quero, me atrevo.
Mas tem um vago outro lado,
lado escondido de mim,
lado quieto, não falante,
lado somente pensante,
murmurante, balbuciante,
o lodaçal, pantanal,
os portões do meu umbral,
lá mesmo, onde se escondem
as dores, os malefícios,
a culpa, o medo, o mal.
Lado sabido e negado,
exorcizado, esquecido,
e nunca compreendido.
Quando, bandida, te ataco,
exponho o meu lado fraco,
exponho minha carência,
sem um pingo de decência...
Me use, mas não abuse:
sou a menina assustada,
que ainda acredita em fada,
e gosta de chocolate.
Me ate, mas não maltrate...

Viver dá trabalho

Não pense voce que vai ser fácil
mudar de opinião a toda hora,
sofrer inúmeros desenganos,
exercitando-se como ser humano.
Essas mudançaas de humores
vão demandar muitos suores,
muitas batidas de porta,
pulsares da veia aorta,
sapatos de solados gastos...
Ver as consequencias dos seus atos.
Tem que ter muito de artista,
ser um tipo de humorista,
de humor ácido, vermelho,
para nunca perder de vista
um amigo, um bom conselho.
Tem que saber a mudança das horas,
ouvir os guizos do coração,
controlar o torcer e retorcer das mãos,
sentindo, lá no fundo, o que só voce sente,
sendo igual, tornar-se diferente,
uma constante adaptação...
Atenção ao ato falho,
que entrega a sua intenção.
Viver dá muito trabalho...

Meu menino

Meu menino, a quantas andas?
Meu menino, com quem desandas?
Seu corpo é meu confidente.
É ele que fala, que cala,
que sempre me surpreende.
É ele que anda trotado, sincopado,
como se houvesse na ponta dos pés
uma súbita fuga preparada,
pronta a qualquer emergência,
uma fuga de urgência,
atropelada.
Quando ele anda, balançam
os fios desarrumados, espalhados,
pela nuca, pela testa,pelos lados,
diante dos meus olhos, maravilhados.
Quando ele para, não para,
simplesmente.
Ele estaca, de repente,
à espreita, à escuta,
sempre tenso, sempre o tal,
e nunca, nunca, banal...
É sempre aquele grande animal...
Sempre alerta, característico,
sempre sensual.
Sua postura acesa
lhe dá esse ar de presa,
de arco retesado,
de aprisionado vôo de flecha.
Meu menino, você me interessa.
Por você eu tenho pressa,
e continuamente mudo de direção,
como um navio acertando a rota,
pelo seu olhar acuado, acelerado,
meu menino calado,
e, mais que tudo,
por seu andar sincopado...