terça-feira, 29 de abril de 2008

Investigando o eu adormecido

Além, muito além do espelho,
vejo o reflexo de uma fantasia.
Vejo tudo claro, menos o que os outros vêm,
e que, realmente, compõe o meu dia a dia.
E tudo o que eu gostaria
é que esta via
de conhecimento
fõsse menos escorregadia.
Quem bem me conhece
é quem mais padece
da minha timidez não revelada,
da tagarelice , que não conduz a nada.
que confunde, embaralha, surpreende.
É uma viagem, cheia de dificuldades,
o auto-conhecimento.
È um padecimento.
Que grande amolação
esta perpétua investigação.
Percebo que os outros me percebem,
entendo que não há esconderijos.
O que não vejo em mim, vejo nos outros,
vejo os traços que em mim eu não desejo.
(E, quanto menos desejo, mais claramente vejo).
Quero ser bom, quero ser belo, quero ser perfeito.
Nego, no ego, o monstro adormecido.
Nego a inveja, a falsidade, nego o mal feito,
e, pior: nego o amor, como imerecido.
Tanta energia desperdiçada
se fôsse corretamente canalizada
me faria viver mais sabiamente.
Minha sombra, meu duplo, meu dragão,
cospem fogo, no corpo emparedado.
Quero uma trègua, nesta guerra santa.
Quero entender, e depôr as minhas armas.
Quero tirar esta armadura tão pesada.
Quero, no espelho, ver o que os outros vêm.
Conhecer-me, aceitar-me, ter prazer,
descobrindo, em mim, um nove ser:
bom ou mau, belo ou horroroso,
como um dado, cheio de lados,
e, mesmo assim, digno de ser amado.
Nada de máscaras, cortinas, referenciais,
(Não quero pouco).
De mim, quero muito mais...

3 comentários:

Anônimo disse...

Realmente, Liasophia, é mais fácil enxergar o cisco no olho do Outro,do que a palha no nosso olho.
Émais fácil apontar o êrro alheio,do que observar os nossos delizes. Bem lembrado!

marcela primo disse...

§

E é difícil, mesmo, alcançar a porção escondida sob as infindáveis camadas de proteção ou mesmo de hábito, não é?

De todo modo, o que somos, senão o que contam sobre nós?

=/

§

Anônimo disse...

Marcela:
somos muito mais do que os outros vêm em nós, fique certa. Somos Criação, criaturas, pensamos, sentimos, raciocinamos, e,...fazemos um monte de besteiras. A maior delas é dar crédito ao que os outros pensam de nós...