quarta-feira, 30 de abril de 2008

Coisa alguma


A Liberdade é....solitária.
Vínculos são....armadilhas.
Pessoas são....como ilhas.
(Aluviões que se desprendem das margens,
onde antes estavam, sólidas,
antes da perda, do desgaste, do desastre).
Há momentos, em que não penso em nada.
E há momentos, em que a cabeça não para.
Mas, o que eu mais queria, era, um dia,
vivenciar a solitaria liberdade
de largas braçadas na piscina,
na piscina imensamente azul,
livre de qualquer necessidade,
livre de qualquer amizade,
sem precisar de consolo, companhia,
livre de qualquer guia.
(Em suprema e solitária liberdade).
Livre de qualquer fantasia,
até não ter mais vontade
de querer o que antes eu queria,
até me tornar uma pessoa, (mais uma),
que não quer mais coisa alguma.

Teu olhar

É um mundo, por dentro de outro mundo,
é a pétala da rosa humanizada,
é a mais perfeita indagação,
é a paisagem da nave espacial,
teu olhar...
Tão extenso,
como um imenso
oceano sem fundo,
meu bem...
É o mais escaldante deserto,
decerto,
é o vau, é o vão,
é a mais perfeita imensidão,
é o mais límpido clarão,
é a total escuridão,
teu olhar...
É fonte que não seca,
é mistério, caos, enigma,
é feitiço, é fetiche,
teu olhar...
É bom, incomum, verdadeiro,
balanço de barco,
que vai e que vem,
teu olhar...
É entrega, meu bem...

Estrada

É preciso caminhar muito chão,
palmo a palmo, purificar o coração,
para entender o mistério da ilusão.
É preciso passar pela dor,
por todo o tipo de desamor,
meditar, orar, conectar
com o irradiante Universo.
Deixar de lado os apegos,
os apetites e medos,
as paixões, os desenganos,
deixar passar o suceder de muitos anos.
Ver, ouvir, sempre calar,
reduzir ao mínimo as necessidades,
aumentar a carga de bondade.
No espaço-sem-tempo do firmamento
cada vida é um breve momento.
Túneis de luz, canais de energia,
rebrilhando, e impulsionando os seres
à finalidade primordial:
o aprimoramento espiritual
individual e universal...

Aqui, e lá fora

Aqui, e agora, aprendizado.
Lá fora, a tese de mestrado.
Aqui, e agora, os diferentes afazeres.
Lá fora, o contato com outros seres.
Aqui, e agora, o caminho, o espinho.
Lá fora, os odores de mil flores.
Aqui, e agora, o contato imediato com o mal.
Lá fora, a finalidade principal:
a vivência de um amor bem mais real,
da caridade abençoada,
concedida e auferida
como um tipo de respiração:
indispensável, vital.
Aqui, e agora, as lágrimas incandescentes,
turvas, doídas, massacrantes.
Lá fora, o bem estar comovente
de convivências inebriantes.
Aqui, as ambições inconfessáveis,
as paixões não resolvidas.
Lá fora, a fratenidade
de inúmeras mãos amigas.
Aqui, e agora, a prisão.
Lá fora, a libertação.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Idas e vindas

Os berços acolhem
o retorno ao penoso aprendizado.
Os berços não escolhem.
Desde que a vida despontou, um dia,
ou uma noite, não se sabe,
nesta espaçonave chamada Terra,
aos berços voltam,
sublime e fera,
em outras formas,
entrelaçadas.
Poder e ouro, esgar e sangue,
que a vida irmana.
Sem privilégios viveremos,
frutos de escolhas,
sob o firmamento.
E suaremos nossa perplexidades,
e exudaremos nossas vaidades,
tentando impôr opiniões e preferências,
e normas de conduta,
esquecidos das glândulas pituitárias,
da carga genética,
dos fluidos hormonais.
Por que não podemos nos deixar em paz?
Por que não aprender a humildade,
o socorro da alheia necessidade?
Quantas voltas ao berço custarão
finalmente, agirmos como irmãos?

Importancia do amor

É verdade
que o amor
sempre sabe o que fazer,
e não hesita em se comprometer?
Um homem e seu cavalo,
um homem e suas ideias
são os ingredientes
de uma revolução?
Só a gratidão
faz a revolução.É o suficiente.
Há um caminho encantado,
em meio a vales e sombras.
èle só é percorrido
pelo amor esclarecido,
pelo amor vibrante.
Pelas esquinas do Tempo
todos vão e todos voltam,
galopando pelos campos,
corcéis de coragem e de sangue,
as espadas apontadas,
prontas para a matança.
Mas, o amor esclarecido
é o mistério pulsante,
que alimenta os cavalos,
o fabricante de espadas,
e o cavaleiro andante.
Pelas esquinas do Tempo,
o amor cumpre o seu ofício:
mata a fome, a sede, e sacia,
traz a chuva, que alivia,
traz a certa companhia.
Só o amor é importante.
Só o amor vence o tempo, e avança
até o encontro com a alma forasteira.
Só o amor faz nascer a lágrima tépida,
benfeitora, curadora.
Até no coração mais empedrado
o amor racha paredes, lança rêdes,
em direção aos vorazes peixes da maldade
e os captura, todas as vêzes.
O amor une norte e sul,
e traz, num repente, a eternidade,
entrevista na madrugada azul.
O amor canta e acalanta,
faz dançar, faz rir, chorar,
o amor e sua luz solar,
como um raio deslizante,
faz a retina brilhar,
e o coração mergulhar
em poças de mel brilhante...
Só o amor éimportante.

Irmã

Ainda que eu me cercasse de palavras,
apascentadas como reses, no curral do meu medo;
ainda que eu me protegesse com palavras,
recolhidas como juncos, no pântano da minha dor,
ainda restaria a tua presença,

imaterial, consubstanciada nos meus pensamentos.
Minha irmâ...
Mergulhada na névoa da esquina imprecisa,
na tênue neblina pousada nos telhados.
Aqui, ali, adiante, materializada nas minhas lembranças.
Forma perfeita e perene, na memória,
em instantes fotográficos, retratos na parede,
na sólida parede da família esfacelada.
Minha irmã...
Tua sêde, tua insegurança, tua aliança
partida.
Minha irmã querida...
Tua sólida beleza, teu sorriso, teus afazeres,
tua presença, sempre tensa,
e marcante.
Teus problemas, teus desejos, teus dilemas,
teu amor, tua carência,
cercados, pelo eterno vigiar da maledicência.
Minha bela irmã...
Um brilho de fogo-fátuo, a casa desarrumada,
o canto de mil canários,
os apetites, vários...
Foi demais, a falta de rumo,
desarrumou-se, saiu do prumo.
Como na casa incendiada,
nada ficou de nada:
nem mobília, nem baixelas,
nem as obras completas
do poeta inglês.
Só a dor ficou.
Ainda que eu garimpasse as palavras no dicionário,
e as comparasse, classificasse, e ordenasse,
ainda assim, não saberia o que dizer
diante do fato incontestável da tua morte;
ainda assim, pouco eu iria entender
dos armários abertos,
das gavetas expostas,
dos azulejos manchados,
do sangue espalhado,
do ato pensado, ensaiado, testado,
repetido, obssessivo,
diante da sufocante percepção
de uma vida sem saída, sem direção,
que não valia a pena ser vivida,
(na tua concepção).
Minha irmã, que opressão,
que dia de horror,
que desamor,
que agressão,
àqueles que tanto te amaram,
e, desorientados, ficaram,
perplexos de dor.

Investigando o eu adormecido

Além, muito além do espelho,
vejo o reflexo de uma fantasia.
Vejo tudo claro, menos o que os outros vêm,
e que, realmente, compõe o meu dia a dia.
E tudo o que eu gostaria
é que esta via
de conhecimento
fõsse menos escorregadia.
Quem bem me conhece
é quem mais padece
da minha timidez não revelada,
da tagarelice , que não conduz a nada.
que confunde, embaralha, surpreende.
É uma viagem, cheia de dificuldades,
o auto-conhecimento.
È um padecimento.
Que grande amolação
esta perpétua investigação.
Percebo que os outros me percebem,
entendo que não há esconderijos.
O que não vejo em mim, vejo nos outros,
vejo os traços que em mim eu não desejo.
(E, quanto menos desejo, mais claramente vejo).
Quero ser bom, quero ser belo, quero ser perfeito.
Nego, no ego, o monstro adormecido.
Nego a inveja, a falsidade, nego o mal feito,
e, pior: nego o amor, como imerecido.
Tanta energia desperdiçada
se fôsse corretamente canalizada
me faria viver mais sabiamente.
Minha sombra, meu duplo, meu dragão,
cospem fogo, no corpo emparedado.
Quero uma trègua, nesta guerra santa.
Quero entender, e depôr as minhas armas.
Quero tirar esta armadura tão pesada.
Quero, no espelho, ver o que os outros vêm.
Conhecer-me, aceitar-me, ter prazer,
descobrindo, em mim, um nove ser:
bom ou mau, belo ou horroroso,
como um dado, cheio de lados,
e, mesmo assim, digno de ser amado.
Nada de máscaras, cortinas, referenciais,
(Não quero pouco).
De mim, quero muito mais...

domingo, 27 de abril de 2008

Batman, socorro!


Não tem água no fundo do poço,
não tem som no grito da ovelha,
não tem luz no olho do cego,
não tem dia no solo da lua,
não tem teto no meio da rua.
Mas nem tudo está perdido:
há estrelas, firmamento,
há flores, há esperança,
há o cachorro e seu osso.
Valei-nos, Batman!
Vem nos salvar!
Do assalto, do rapto,
do bruto estupro,
das guerras, dos terremotos,
das enchentes, dos eclipses,
das bestas do apocalipse,
dos jornais e da tv.
Valei-nos, Batman!
Confiamos em você.
Chama a tribo dos heróis:
chama Ben-Hur, Lancelote,
O rei Arthur, Alexandre,
César e suas falanges,
Demétrius, Gladiador,
Ulisses e Menelau.
Valei-nos, Batman!
Homem morcêgo,
encarnação do bem trevoso,
Salvai-nos de todo o mal!
Temos trânsito, baile funk,
festa de largo, arrastão,
temos o linchamento,
matando a qualquer momento,
temos a crueldade, o crack, a cocaína,
temos a brutalidade,
o irmão que mata irmão,
e, para os meninos vadios,
sem chance, sem ilusão,
perdidos pelas esquinas,
temos a vil chacina.
Socorro, Batman, socorro,
nas Cidades e no morro,
gente é tudo igual.
Por fim, não posso esquecer,
salvai-nos do Carnaval...

Rainhas

Eu queria que a rainha da Inglaterra,
a mais rica e aristocrática das rainhas,
tomasse chá comigo.
Eu iria expor as imensas necessidades
do meu povo brasileiro.
Será que é muita vaidade?
Tenho certeza que a distinta senhora
iria se comover e ajudar
o meu povo brasileiro.
É bem verdade, que , no passado,
seus bisavós invadiram e saquearam o meu país.
Isto é o que a história diz...
Mas, faz tanto tempo...
Estamos em outro momento.
Vou apelar à rainha da Espanha,
atarefada com o casamento da Infanta.
A rainha da Suécia, me daria atenção?
Sua realidade é tão outra,
haveria chance de consideração?
As mulheres são um momento sublime da Criação.
Por isto, vou apelar às rainhas.
Mulheres tem ciclo menstrual,
podem entender o problema visceral
da fome, da miséria,
coisa feia, triste, séria.
Os reis estão sempre atarefados,
insones, diante das finanças,
das guerras, das revoluções,
dos tremores da Bolsa de Valores.
As rainhas, ficam às voltas com as crianças,
com todo o respeito,
são elas que dão o peito...
Temos que instruí-las e aporrinhá-las,
para que se preocupem com a miséria,
coisa feia, triste, séria,
e que também é mãe,
de um berço que não balança.
Ah! Os tristes filhos da miséria!
Ninguém quer ver, quer olhar!
As rainhas, a qualquer momento,
podem sofrer a tragédia
de se transformar em reféns da miséria.
Rainha fútil e bela, perdeu a linda cabeça,
na Revolução Francesa.
E tudo, por causa do pão,
aquele, que, quando falta,
todos gritam, e ninguém tem razão.
Será que as rainhas sabem
onde fica o Muro das Lamentações?
Dizem que é em Jerusalém...
Será que não fica mesmo no coração
dos que nem comida têm?

Ancestrais portugueses

Esses cigarros balineses,
esses ancestrais portugueses,
cheios de melancolia...
Esses conhaques franceses,
esses sorrisos, às vezes,
cheios de fantasia...
Ou amo demais, ou não amo o suficiente.
Essa mão espalmada que me toca,
esse jardim perfumado, que me evoca
a lua prateada de Alexandria...
Nunca escolho o momento certo
para dizer adeus.
De meus olhos, já não brotam lágrimas
(mas ainda gosto de fazer tudo bem devagar,
de par em par,
de preferência, olhando o mar,
principalmente, envelhecer,
tentando, em vão,
te esquecer).

Rosa dos Ventos

Vivo de expectativas, vivo,
de revoltas e doçuras.
Ser visceral, inconstante, êrmo,
não cabem, em mim, os meio-têrmos,
Não!
Cabeça fria, coração que sente,
estou, quando não estou presente,
na ausência ,sou.
Enxergo a alheia calma, leio a alma,
e guardo, resguardo, compreendo e calo.
Desvendar difícil e fácil, transparente,
segredo cinza, esfumaçado, sou.
Arco e flecha, retesada, vou.
Acerto o alvo. Ameaço. Faço e desfaço.
E no meu rastro há um clima
de claro-escuro, de luz, de treva,
e o dom do açoite, da palavra, e do perdão.
Caminhar comigo, é rede de malha,
é sorrir, chorar, festa bandalha.
Continuamente penso, me consumo pensando,
(e penso, ainda),
mas ajo lentamente,
com preparações de noiva,
cerimônias, amuletos,
goteira em cima da cama,
e sutilezas dos gatos no telhado,
olhando a lua.
Cerco, modifico, sonho.
Paciente estrategista dos meus mêdos,
a estratégia toda se desarma
no abraço ganho.
Tenho, em mim, esses recantos:
um laçarote de trança,
rebuscamentos de valsa,
e bamboleios malandros,
sagacidades, asneiras,
espantalhos, ratoeiras,
escondidos pelos cantos.
Feliz, só de passagem,
amo.(Com a cara e a coragem).
São petulãncias tímidas e quietas.
As molduras não se enquadram
no tamanho do retrato,
e nem possui quatro lados.
Meu retrato é circular,
tal como rosa-dos-ventos,
partindo de um centro único,
para todos os quadrantes,
viajante, navegante,
estrela errante,
esta, sou eu.

sábado, 26 de abril de 2008

Preferência

Porque tenho um motivo de riso
(vivo para isso);
porque tenho um motivo de surprêsa
(essa coisa têsa),
por isso, eu vivo.
Se não houvesse o susto, a surprêsa,
eu não teria esta vontade de seguir,
de ir, de deixar vir
o futuro, tão obscuro.
Então, eu mereço
todas as danças, os boleros,
os lero- leros
das esquinas.
Então, eu mereço
todas as sabatinas.
Porque amo a vida, e quero tê-las.
Porque amo o beco , o deslize,
a feira livre, o biscate,
porque desprezo o ouro, o quilate,
dos diamantes ofuscantes,
porque amo o disparate,
amo o que surpreende,
fico com a súcia,
com a sua astúcia,
e com o nosso diágolo entre paredes,
para saborear, sovinamente,
sua luz seu extra, seu arremate.

O que fica

Todos viverão a própria vida;
uns, serão lembrados no futuro;
outros terão sonhos, pesadelos,
e não haverá porto seguro.
Todos necessitam de coragem
para viver seu destino intransferível.
Uns semearão flores onde fôrem;
outros, somente espalharão o mal.
O desafio mais difícil será, sempre,
o próprio crescimento pessoal.
Passarão as homenagens à beleza,
o poder, o luxo, a grandeza,
passará até o desamor.
Ficarão as estrelas, o firmamento,
o inesquecível perfume de uma flor.
(A flor imarcescível do amor).

sábado, 19 de abril de 2008

NAVE ESTELAR


Na diversidade do mundo em que estou,
tudo é perfeito, pleno e completo.
Deus opera. Por SEU intermédio
ciclos de vida se abrem e se fecham.
Nada é acaso. Todo é propósito,
e evolução.
Tudo segue seu rumo, seu ritmo, sua rima.
Preparamo-nos para a vida mais completa,
fora deste ciclo.
Preparamo-nos para a amplidão
de outras esferas.(Que nem esferas são).
Mas que existem,
sem palavras para descrevê-las,
deduzi-las, defini-las, conhecê-las,
não na nossa visão.
Infinitas esferas, suntuosas, belas,
luz e amor, na mais perfeita pulsação.
A Luz Divina provê, determina e opera, e tudo é fusão.
Não há paradoxos ou oposição.
A suave nave estelar navega.
Nossa Terra.
Em seu bojo, a celeste herança:
matéria, alma etérea,
em ordeira procissão,
em circunvolução,
alternando idas e vidas,
mortes e vidas,
a ordenada aventura dos planetas,
em explosão,
e folhas, que não se movem sem determinação.
Não existem milagres no Universo,
é sempre a mesma orquestração.
Ao maestro, a batuta.
Ao poeta, a labuta
desta anunciação.

Filhos

Que faremos, jamais,
quando os filhos nos chegarem,
e sempre, para sempre, nos amarem?
E nos deixarem?
E herdarem:
nossos olhos, nossas mãos,
nossas perplexidades?
Que faremos, jamais,
com a mobília e os ideais fora de moda,
moídos pela roda
do tempo, da fortuna?
Que faremos da casa abandonada,
de paredes rachadas?
Que faremos, jamais,da compreensão
que cada um deles vai ter do seu próprio chão:
para sujar, para lavar, para pisar,
e amaldiçoar?
Que faremos, jamais,
com a nossa patética proteção,
risível, previsível,
dispensável?
Os filhos chegam e se vão,
deixando ainda quentes os berços onde dormiram,
e debruçados e insones, ficamos,
por incomensuráveis anos...
Temos que desligar o botão da emoção
aos poucos, devagarinho,
abaixar a corrente de carinhos,
bem de mansinho,
e mantê-los perto, baixinho,
dentro do coração...

quarta-feira, 16 de abril de 2008

A oficina do poema

Minha voz só tem valor na medida em que ressoa
como um tambor tribal, na mente de quem lê.
UM ELO, APENAS, FEITO DE POEMAS,
QUE REPERCUTEM NA SENSIBILIDADE ALHEIA.
A oficina do poema não é só feita de livros,
que permanecem inertes, em quieto equilíbrio,
até que alguém os perceba e leia.
A oficina do poema é feita do aço das experiências
que trazem aprendizagem, (e benevolência)
no trato com o poema, e, sem dilema,
com a própria vida, de uma forma geral,
com tudo o que ela tem, de belo ou de banal,
como a descoberta de um novo Graal,
prestes a se espatifar da Torre de Pisa,
e salvo, no último momento,
resgatando o nosso sentimento.
Todo o nosso presente, de alguma forma,
estava escrito lá, nos velhos pergaminhos.
Em nosso interior, a cada vida,
já vêm impressos os caminhos
que apontam o futuro redentor.
As experiências, os desastres que sofremos,
têm seus desdobramentos, abecedários,
consequências, conclusões.
As perdas e os desastres sempre trazem soluções,
(são cartilhas de aperfeiçoamento.
São erráticos, didáticos, democráticos,
na medida em que a todos, indistintamente, alcançam.
Ai de nós, se não fossem os desastres,
é certo que não haveriam mudanças
que nos levam a outras direções.
O aprofundar dentro de si mesmo,
para o poeta, resulta, como por milagre,
em uma grande libertação do pensamento,
e, quem sabe, à apreensão do conhecimento
dos destinos espirituais da humanidade.

Ressurreição

Acorda o faraó do seu sono profundo
de não sei quantos séculos de torpor
O que ele percebe, desolado?
Mudanças incompreensíveis no seu mundo,
não há vestígios do antigo esplendor.
Nem múmia, nem tesouro, tudo acabado,
saqueado, levado por ladrões.
Em lugar de súditos ou escravos,
boquiabertos turistas saxões.
Sumiram os cem filhos, as esposas,
o ouro, as jóias, os milhões
de prerrogativas do total poder.
Difícil de crer, de entender.
Nem Osíris o pode socorrer.
Percorre o faraó os subterrâneos
da sua nova vida, imaterial.
O que ele vê?
Uma insuspeitada liberdade de ação
Surpreso, verifica o faraó
que da parafernália dos bens materiais
ele, agora, não necessita mais.
Sente-se bem melhor.
De uma certa forma, está maior
do que quando reinava, no Antigo Egito,
que, aliás, não existe mais.
Alegra-se o faraó:
há muito o que fazer na nova morada.
Sem saudades do fausto anterior,
prepara-se para servir o verdadeiro Senhor
e voltar à vida, como obscuro professor,
na mesma aldeia onde antes reinava.

domingo, 13 de abril de 2008

Simplicidade


A simplicidade
é o maior tesouro que existe no mundo.
Simples é o caroço dentro da fruta.
Simples é o seu olhar de poço sem fundo.
Ser simples é uma alegria,
é nunca estar de alma fria.
A simplicidade tudo resolve.
Até a tristeza dissolve,
diante de um sorriso simples.
O próprio Universo,
qeu parece ser complexo,
tem lá o seu próprio nexo,
que se repete simplesmente,
imutável, inexoarável, diariamente.
As coisas da Natureza,
e sua imensa beleza,
são eternamente simples.
Estar no colo de quem se ama,
é de uma simplicidade natural
(não existe nada igual).
Amar, nutrir, conservar,
são simples na sua essência.
Existe coisa mais simples,
do que se ter paciência
com quem nos aborrece?
Coisa fácil.(Mas tão difícil...)
Simplicidade é como o ar,
cabe em qualquer lugar.
Ser simples é ser singelo,
é abandonar o flagelo do egoísmo.
Simplicidade e singelesa,
não diferem em beleza:
São quase que como irmãs.
O que é simples, sem requinte,
sem volteios, sem bobagens,
todo mundo compreende,
aplaude e reconhece.
Bem simples é a roupa no varal,
ou o cão de estimação,
dormindo no quintal.
Simples é o pão nosso de cada dia,
e, principalmente, se viver em harmonia
com o que sempre se quiz:
ser, simplesmente, feliz.

sábado, 12 de abril de 2008

Abissus


É um mar de segredos inconfiáveis
minha alma,cheia de luz e de sombras,
sombras nas quais não penetro.
É um rio cheio de pedras,minha alma.
Nos escuros da minha alma
estão os choros da infância,
os medos,os pesadelos,
os sustos,a culpa incômoda
de que me penitencio.
São grilhões da alegria
no meu corpo hospedeiro
os segredos empilhados,
escusos,irrelembrados.
(Meu perigoso tesouro).
Minhas sombras abissais,
cheias de peixes sem olhos,
cehias de seres sem rosto,
cheias de denso carvão,
cheias de combustão,
de energia,
da propulsão que me empurra
a fazer exatamente,
tudo o que eu não queria.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Poemas...




Aqui, poemas.
De todos os temas
e tremas
e tremedeiras
de panico...
Guerreira,
não me entrego.
Nego:
o frio,
a fome,
o cansaço,
a solidão.
Mas tudo isto existe
e dói imensamente
e, mais que tudo, dói
a ausencia de compreensão...
Eu me contento com pouco. Quem sabe, um dar a mão?
Aqui, poemas. Em desordem.
Parte visceras,
parte ilusão.
De tudo um pouco.
Um pouco da história pessoal,
um pouco da vivencia casual,
o bem, o mal,
mistura de luz e sombra ,
em partes, talvez, iguais.
E poemas, no papel,
para que não fujam mais...