domingo, 22 de junho de 2008

Urbanidades

Na grande cidade
não medra a ternura.
Na cidade grande
só medra o concreto
das gentes, estrutura.
Lá não mais existem
pomares, quintais.
Perdidos no tempo
e enclausurados
atrás dos portais,
os homens, estranhos
textura de pedra,
da cor dos vitrais.
E são coloridos,
e bem embalados,
com muitos requintes,
play-grounds, piscinas,
em seus edifícios,
e, no entanto, banais.
Carentes de agreste,
de pouca comida,
de um certo mutismo,
das coisas do mato,
fundamentais...
São seres alheios
à rede, à calma,
não sabem da vida
o gosto, o sabor,
e montam e galopam
estranhos corcéis,
corcéis a motor.
Viajam, se agitam,
e morrem de câncer,
infartam mais cêdo,
e fumam e bebem,
só um ou dois filhos,
que muitos, jamais.
Não há mais espaço,
em seus corações,
tão cheios de pressa...
Cidade de pedra,
a boca do inferno,
que a todos mastiga
sem nem devolver
bagaço, restante,
de ti quero paz.

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